quarta-feira, 1 de outubro de 2014




A medicina, antes de tudo, não estabelece mas predispõe à cura, nem sempre garantida.






Praticar Medicina propõe que o profissional dê o melhor de si, dentro dos critérios científicos e preparo técnico. Não é possível prometer um desfecho perfeito no processo dual saúde x doença.
A afirmação hipocrática ”o médico cura”, e ouso questioná-la, é uma expressão não totalmente apropriada, ao meu ver. No fundo, penso que foi elaborada para valorizar a difícil e distinta profissão, dentro de uma árdua responsabilidade.
Curar é um termo que soa “um tanto sobrenatural” do ponto de vista prático e real. Convém ponderar que para que isso ocorra é necessário que existam uma enfermidade, um paciente ( um organismo com potencial de resposta), profissionais preparados, e um conjunto de elementos que ofereçam suporte para o tratamento.
Cada elemento destes deve exercer forças no mesmo sentido, como se fossem vetores, para que a resultante favoreça o paciente debelando a doença .
O “doutor” intervém com um arsenal terapêutico alinhado à cultura científica, visão clínica, e coordenando uma boa equipe multidisciplinar. Essas são as únicas variáveis que o médico consegue gerenciar. Sozinho não tem o poder de cura. Ele pode, sim, interferir na evolução da doença, erradicando-a ou não, nem que seja mitigando a dor e o sofrimento.






Isso vai de encontro às situações em que muitas vezes o próprio profissional sente-se impotente após o insucesso ou à perda, e não raro a sensação de uma "culpa" que não lhe pertence.
Médicos são humanos, portanto não são perfeitos. Óbvio que com um encargo muito mais desafiador e comprometido, em que a razão maior é fazer todo o possível para otimizar a saúde, e controlar o controlável nas enfermidades.
O resultado não pode ser garantido , mas o melhor deve ser oferecido, numa mentalidade de investir até a última gota do que é disponível para resolver o problema .
Basta estar saudável para adoecer, basta estar vivo para morrer, são processos naturais. Nem de longe, quem quer que seja pode atribuir um fardo tão pesado, acusando o médico de uma falha deliberada, quando ela não aconteceu.
Visando uma prestação de serviço humanizado, temos de considerar que não pode ser médico quem não foi paciente, ou não sentiu a dor e o sofrimento físico-emocional. É mistér colocar-se no lugar do enfermo, percebendo suas necessidades, e qualificando pontualmente o atendimento
Um dos fatores que favorece uma certa segurança ao prestador , e conforto para todos na circunstância do tratamento é o apoio da família do doente, bem como compartilhar com ela as responsabilidades, possibilidades e riscos de todo o processo. Atinge-se um ambiente de harmonia entre todos, e sempre os dois lados devem interagir para que tudo conspire à favor do sucesso.
O “doutor” chama-se "fulano de tal", e não JESUS CRISTO que assegura qualquer milagre.
Pela política na Saúde , precisaríamos de melhores condições para toda a sequência de profissionais envolvidos no atendimento à população, em níveis primário, secundário e terciário. Sem a devida composição -hospitais, leitos, especialistas e generalistas disponíveis dignamente tratados, aparatos necessários-não há como oferecer o melhor. São questões fora da alçada do corpo clínico. Seria da competência administrativa .
Sou grata por fazer parte de um respeitável time de profissionais, e interferir positivamente, na medida do possível, à favor do bem estar das pessoas. Minha equipe me ensinou e reforçou as melhores condutas, bem como os valores cardinais para exercer a atividade de forma digna e respeitosa. Os exemplos que vejo em cada um dos meus colegas veteranos me acrescentam e me aprimoram todos os dias.
(Thelma Eliza G. F)