sábado, 8 de julho de 2023




    
                                          É dificil dizer adeus 


      Pensei em escrever algo breve sobre o tema, haja vista que pessoas estimadas nos deixaram ao longo do tempo, e com isto, algumas marcas inevitáveis.
      A morte de alguém nos induz a refletir sobre a existência, como um sopro, e a valorizar mais o tempo, a vida, aguçando a nossa percepção sobre o que e quem são realmente essenciais.
     Quando alguém querido parte deste mundo, algo se desfaz em nós: morremos um pouco. Para alguns se esvai a esperança de reconstruir um vínculo, outrora negligenciado, com a mãe, ou o pai, com o irmão, ou alguém importante para a própria identidade. Para outros, interrompe-se uma relação vital, por vezes longeva, que chega a comprometer a inteireza de quem foi deixado. 
     Como não sentir dor mediante a ciência de que não mais faremos parte daquele coração, que perderemos a nossa   importância afetiva para aquele ser ? À princípio, a esposa não será mais esposa, os filhos deixarão de ser filhos, os pais deixarão de ser pais, segundo o entendimento comum . E assim segue a dinâmica misteriosa desta transição para o "além". 
     Desde a época da pandemia Covid 19, nunca mais me conformei com a "ida" dos que partiram, sem uma mínima despedida. Quantas famílias foram privadas de seus patriarcas, matriarcas, irmãos, amigos ou filhos, arrebatados pela doença que marcou  tragicamente a recente história da humanidade? E sem a possibilidade de realizar uma última homenagem? 
      Acredito que, mais do que nunca, o "adeus" adquiriu uma nova importância: em afastando-se de alguém que se ama, mesmo num momento corriqueiro, façamos como se não fôssemos mais vê-lo. Basta estar vivo para deixar de estar. E apenas isto justifica.
      O encanto existencial, o legado dos bons feitos, a representatividade pessoal, aquilatam o vulto dos que aqui viveram.
      A morte em si nem é uma tragédia absoluta. Em grande parte das vezes é algo natural. Inclusive há uma certa beleza na paz que ela representa, diante de um sofrimento físico que deixa de existir na doença grave, ou no sofrimento mental dos que são psiquicamente afetados e vivem martirizados. 
A dor maior é a dos que foram esvaziados da existência inestimável deste alguém.  
      Fica bem claro que as perdas, especialmente as inesperadas, nos mostram o quanto não temos posse do que quer que seja, e assim nos obriga a exercer o desapego . 
      Dizer "adeus" talvez possa amenizar o distanciamento por tempo indeterminado, e acender a expectativa de rever a pessoa que partiu. 
      Sinto conforto ao lembrar da mensagem das Sagradas Escrituras, bem como das palavras de grandes pensadores, que alegaram a eternidade da alma. Faz-se a crença de um dia reencontrarmos os que nos são caros.
      Amaria rever o meu pai, por exemplo,  uma pessoa a quem eu venerava, e muito amava, mas com quem não consegui conviver. Quando ele se foi, há dois anos, devido a Covid 19, senti o peso de todas as lágrimas que não pude derramar em meio a um abraço entre pai e filha, de todos os sorrisos que não compartilhamos durante a nossa breve história, e de um amor que não conseguimos desfrutar do modo como merecíamos.      
     Portanto digo a todos os que convivem com as suas famílias, aproveitem cada instante com os seres amados, porque a vida é muito grandiosa e linda ao lado de uma família amorosa, entretanto, rápida e imprevisível.  
     É um ato de coragem despedir-se de quem se ama. De qualquer forma, esperamos que isto possa ser um "até breve".
     Do pó viemos, ao pó voltaremos, mas o espírito transcende a matéria, nos aproxima de DEUS, e dos que se foram? Um dia saberemos. Oremos! (T)
      


                                            https://www.youtube.com/watch?v=Cl57NQ6GcF8